Nota de repúdio ao brutal assassinato de Beto Freitas

Postado por fernandopenna em 26/nov/2020 - Sem Comentários

Nós, docentes da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense, vimos, por meio desta, manifestar o nosso repúdio e veemente indignação diante do brutal assassinato de Beto Freitas, perpetrado por seguranças do Supermercado Carrefour em Porto Alegre, na véspera do dia da Consciência Negra.

O nosso país, um dos mais desiguais do mundo, tem no racismo estrutural uma das suas principais características: racismo e desigualdade social se entrelaçam, pois há dados estatísticos que evidenciam que em um país onde o rendimento do 1% mais rico da população é 33,7 vezes o rendimento dos 50% mais pobres, portanto marcado pela concentração de renda e exclusão, a desigualdade atinge mais fortemente a população negra. O rendimento das pessoas pretas é 27,5% menor do que a média de rendimento nacional e 32,9% dos negros vivem na pobreza, enquanto 15,4% dos brancos vivem na pobreza, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Dados Contínua, PNAD 2019. O Atlas da Violência também atesta que, no Brasil, 75% das pessoas mortas pela polícia são negras, desvelando o racismo institucional que vigora no país. Segundo dados de 2019 do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 66,7% da população carcerária é constituída de negros. Pesquisa recente da Rede Nossa São Paulo lança dados que mostram que 2/3 da população paulistana acreditam que há tratamento diferenciado entre pessoas negras e pessoas brancas em hospitais e postos de saúde, bem como 81% afirmam crer que existe um tratamento diferenciado em shoppings e comércio em geral, de acordo com Jorge Abrahão, coordenador geral do Instituto Cidades Sustentáveis, organizador da pesquisa. A bibliografia de obras de acadêmicos que estudam as relações étnico-raciais aponta na direção de conclusões semelhantes. No Brasil, 56,1% da população se declaram pretos e pardos, percentual que, no entanto, não encontra equivalência em sua representação política, nos cargos de chefia no serviço público ou privado e no acesso à educação e saúde de qualidade.

Não há democracia efetiva sem garantia de direitos iguais para todos e todas no acesso a bens materiais e culturais, com respeito à diversidade de gênero, raça e etnia e inclusão dos que têm necessidades especiais. Não há democracia onde impera o racismo e fingir ignorá-lo vai na contramão dos esforços empreendidos nos governos anteriores a 2016, que reduziram a pobreza e a desigualdade e investiram em políticas de reconhecimento da diversidade cultural e de ações afirmativas, visando a redução das assimetrias de oportunidades. O combate ao preconceito também passa, necessariamente, pela educação. Formamos pessoas, professores que atuarão em diferentes níveis da educação básica e na educação superior. Não podemos nos omitir diante do crime bárbaro perpetrado contra um cidadão brasileiro, negro, que teve a sua vida ceifada por motivo torpe, banalizando a violência e evidenciando o racismo. Urge que tenhamos educação antirracista nas escolas, que reformas que esvaziam a educação básica dos conteúdos de Ciências Humanas, empobrecendo currículos e valorizando uma formação mecânica, voltada para o exercício de funções subalternas na escala social, sejam rechaçadas. Imposições e insensibilidade social só reforçam práticas brutais e desumanas que não têm mais lugar em um mundo que deve se pautar pela defesa dos Direitos Humanos, do meio ambiente e da solidariedade, necessários à salvaguarda do bem comum.

(Esta nota foi redigida por uma comissão estabelecida pelo Colegiado de Unidade da FEUFF. Agradecemos às três professoras que trabalharam na sua redação: Ângela Tamberlini, Elaine Monteiro e Mariana Paladino.)

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